Artigo de Guilherme Fiuza, publicado originalmente na página do autor em ÉPOCA.com. Para acessá-lo, clique aqui.
15:58, 5/06/2011
15:58, 5/06/2011
Ponderação, serenidade, educação, sinceridade. A entrevista de Palocci na TV consagrou a prostituição da virtude.
Muita gente deve estar acreditando no ministro Antonio Palocci. Ele sabe ser convincente. Fez bem ao Brasil por causa disso, como ministro da Fazenda.O mundo deu suas voltas e Palocci continuou convincente – agora, para esconder a verdade.
Diante das câmeras do “Jornal Nacional”, o ministro-chefe da Casa Civil reapareceu para o público – após longa submersão – com sua estampa de homem inteligente e honrado. Dá vontade de acreditar em Palocci.
A oposição, desnorteada como sempre, saiu gritando que o ministro estava nervoso na TV. E que não revelou os clientes de sua consultoria. Se depender da oposição, Palocci fica.
Enquanto os críticos do ministro ficarem dando uma de detetives e psicólogos, a paz dele estará garantida.
O que está em questão é um fato simples: um homem que foi ministro da Fazenda, depois elegeu-se deputado pelo partido governista e tornou-se o ministro mais importante do novo governo petista arrecadou pelo menos 20 milhões de reais, em consultoria privada, no ano em que comandava a campanha da futura presidente.
É só isso. Investigações à parte, este fato deveria ser suficiente para Palocci cair com um peteleco.
Deveria, num país que não estivesse abobado pela fábula do filho do Brasil, da “presidenta” e outros fetiches.
Em sua posição no centro do poder público, Palocci abriu um rentável balcão privado. Não interessa que bons conselhos ele vendeu. O que aconteceria se o Papa abrisse uma consultoria aos fiéis sobre como chegar ao paraíso?
Se o Vaticano fosse no Brasil e o Papa fosse do PT, não aconteceria nada.
Palocci continua suave e angelical como um padre. Quem acha que ele vai se incriminar pelo que sair da sua boca pode esperar sentado. Palocci não é Dilma nem Dirceu. Não fala bobagem.
Suas explicações serão razoáveis, seus contratos serão perfeitos. O ato obsceno já foi cometido, com recibo. O que querem mais? Divulgação de detalhes sórdidos?
É exigir demais de um santo homem.