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terça-feira, 14 de junho de 2011

Palocci saiu, Gleisi entrou, a lua-de-mel acabou...E agora José?

Artigo de Bolívar Lamounier, publicado originalmente na página do autor em EXAME.com. Para acessá-lo, clique aqui.


11.06.2011 - 12h48



Em Novembro de 2006, logo após a eleição legislativa intermediária (mid-term election) dos Estados Unidos, a revista The Economist deu uma capa com uma caricatura de George W. Bush e esta deliciosa legenda: The incredible shrinking presidency. A incrível presidência que encolhe.
De fato, o presidente dos Estados Unidos costuma “encolher” por volta do quarto mês de mandato ou  após a mid-term election, se perder força no Congresso (como ocorreu com Bush).
Nossa Dilma Rousseff  também parece ter sucumbido à síndrome do encolhimento no quinto mês. Em maio, a superpresidente de janeiro a abril desabou; se perdeu popularidade eu não sei, mas que se desgastou, é óbvio.
Pode ser que tal desgaste seja temporário, mas ainda assim vale a pena examinar suas causas e possíveis desdobramentos.
A economia com certeza não foi um dos fatores. A taxa de crescimento diminuiu e a inflação aumentou, mas não o suficiente para causar um estrago tão acentuado e abrupto.
Com ampla maioria nas duas casas do Congresso, a imagem de herdeira do Lula, a caneta das nomeações… Parece incrível, mas o foco do problema é político. Político, mas nem de longe por causa da oposição. O PT, ou um setor dele, recorreu ao bla-bla-blá habitual da “conspiração”: Kassab e Serra estariam por trás do vazamento das informações sobre o enriquecimento do companheiro Palocci –, mas não colou.
Onde, com efeito, poderia a oposição buscar forças para detonar o super-ministro, ou para orquestrar aquela acachapante derrota que o governo sofreu na votação do Código Florestal?
Descartada a economia e a oposição, ficamos com o óbvio, o que todo mundo percebeu e comentou ao longo das últimas três semanas. Na votação do Código, o governo perdeu por três razões fundamentais: a enorme resistência que o projeto de fato desperta; as insatisfações fisiológicas que lavram no PMDB e no PT, e a patética debilidade do primeiro esquema de articulação (Palocci e Luís Sérgio) montado pelo Planalto.
A esta altura do relato precisamos ponderar os efeitos do torpedo que a Folha de S. Paulo disparou contra Palocci.  O que aqui importa é o lado político, não o criminal.
Por duas razões,  não havia e não  houve como atenuar a contundência das denúncias:  primeiro, porque  Palocci não explicou satisfatoriamente o seu meteórico enriquecimento,  segundo, pela destacada posição que ele ocupa na atual estrutura de poder e prestígio do país. Mais alto o galho, maior o tombo.
Até onde a vista alcança, nada sugere que as oposições (PSDB, DEM e PPS) possam capitalizar o desgaste do governo. Por enquanto, elas não têm como se revigorar.
E não nos esqueçamos do memorável desembarque de Lula  em Brasília. Loquaz e voluntarioso como sempre, Lula acreditou poder resolver o imbróglio a golpes de gogó. Não sei se a triste história de nossa República  registra alguma manobra política mais desastrada.
Com seu peteleco salvador, Lula na verdade expôs a nudez do rei (da rainha, neste caso).  Observada de perto pelo mestre, Dilma deve ter se sentido como aquela adolescente encabulada que não consegue demonstrar suas habilidades no piano. No constrangimento que lhe causou, Lula pôs a nu toda a debilidade, a inexperiência e a falta de lastro político de sua cria.
As pedras de minha rua continuam convencidas de que Dilma foi  inventada para ser a fiel guardiã da cadeira presidencial até 2014. Criá-la em laboratório foi uma proeza de Lula, mas tão grande quanto a proeza é o risco institucional de  o país ficar com dois (ou nenhum) presidente. E com Palocci e José Dirceu vestindo o figurino de condestáveis na sombra.
A médio prazo, como assinalei, Dilma pode muito bem  recuperar a dimensão que vinha adquirindo e desempenhar com eficiência a função para a qual foi eleita. Poderá dar um passo importante nesse sentido se conseguir equacionar junto ao Congresso a questão do Código Florestal.
A troca de cadeiras entre Ideli Salvati e Luís Sérgio (ela vindo do ministério da Pesca para o de Assuntos Institucionais e ele fazendo o percurso inverso) teve o seu quê de pitoresco, mas há quem veja com bons olhos a nova equipe palaciana, que passou também a contar com Gleisi Hoffmann na Casa Civil.
A curto prazo e se for mau o resultado na tramitação do Código Florestal, o quadro poderá continuar preocupante. A presidência estará sofrendo as seqüelas do encolhimento aos cinco meses. A base governista ficará tenderá a se dividir ainda mais, dado o insaciável apetite do PT e do PMDB por cargos e posições de poder.
Nessa hipótese – provavelmente muito pessimista -, veremos um Executivo débil, a base governista estilhaçada e as oposições no marasmo em que têm estado, desunidas e incapazes de encarnar uma agenda alternativa. Um triângulo de nulidades.




Bolívar Lamounier
O sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier, sócio-diretor da Augurium Consultoria, é autor de alguns dos mais conhecidos estudos de ciência política no país. Seu livro mais recente, A Classe Média Brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade, escrito com Amaury de Souza, foi lançado este ano pela Editora Campus.