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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Derradeira oportunidade

Artigo de Paulo Brossard, publicado originalmente no jornal Zero Hora e reproduzido aqui a partir da publicação no site do Instituto Millenium. Para acessá-lo, clique aqui.

Faz alguns dias, a nação foi surpreendida com notícia divulgada por grande jornal, segundo a qual prócer da administração federal, nada menos que o ministro-chefe da Casa Civil, ou seja, a autoridade federal que tem as chaves da Presidência da República, tivera súbito e volumoso enriquecimento, R$ 20 milhões em quatro anos. E pior foram os comentários feitos pela feliz personagem. Esses comentários, longe de esclarecer, turvaram o cenário. A tal ponto, que a senhora presidente entrou em cena para dar o assunto por encerrado e, nada menos que o ex-presidente foi chamado, para drenar o chão da presidência, mas, a despeito da linguagem de ambos, o caso, antes de mermar, foi crescendo, dia após dia.
Foram igualmente vãs as várias e ilustríssimas autoridades que se manifestaram, todas no sentido de acentuar as virtudes angelicais do preclaro ministro. Desse cortejo de louvores, participou a aristocracia oficial, petista e aliada. A solidariedade tornava-se expressa e pública. Com tudo isso, e a despeito do recato a que se recolheu o envolvido, depois de algumas declarações desastrosas, longe de minguar o efeito constrangedor foi crescendo, um dia sim e outro também. Estou em dizer que, se fosse feita uma consulta popular a propósito, o resultado seria devastador. Mas, é claro, trata-se de impressão minha.
Ora, não há quem não saiba que há um momento para adotar uma solução, ainda que não seja a ideal. Estou convencido de que esse momento não foi aproveitado, antes diria que foi perdido. Vou além. Algumas declarações do protagonista foram lamentáveis, para dizer o menos. Começou por dizer que possuir dinheiro não é crime, e realmente não é, mas pode ser. Disse coisa pior, ao afirmar que quem passa pelo Ministério da Fazenda tem valorizada sua cotação no mercado. Mas não disse com que e para que, e isto poderia ser fundamental. Honni soit qui mal y pense. Porém, o dito ainda ficou pior. Para defender-se, citou uma série de antigos ministros que teriam feito o mesmo. Mas alguns deles, pelo menos, bradaram o Aqui Del Rey… Antes de serem ministros da Fazenda eram possuidores de uma relação de funções relevantes que autorizavam suas escolhas para ministro, e não obtiveram a credencial depois de passarem pelo ministério… Eu mesmo me lembro de vários que foram ministros exatamente por seus títulos e não alcançaram algum porque ocuparam o ministério, cuja valia, impõe-se salientar, é duvidosa. Enfim, temendo a necrose que avançava, número crescente de partidários do ministro manifestou-se contra seu olímpico desprezo pela opinião do país, sendo que cada vez mais se cristaliza em desfavor do silente ministro da Casa Civil. E este dado parece ter sido mais eficaz do que a bengala que lhe foi emprestada por dois presidentes e mais a corte, e o calado teria dito que falaria a respeito do que dissera não falar. É possível que, quando este artigo seja publicado, já tenha falado. Talvez possa ser feliz nesse momento derradeiro, mas tudo pode acontecer.
No momento em que escrevo, leio que o conturbado ministro pretenderia dar explicações sobre o caso pela TV. Se exata a notícia, a emenda pode sair pior que o soneto. Seria um monólogo. E isto pode custar a recrudescência de uma situação que já é penosa. Aliás, já apareceram alguns “lavando as mãos”.
Um amigo, de larga experiência e sadio critério, chegou a dizer que, nesta altura, permanecer no cargo não seria bom, e sair dele era ruim. Em todo o caso, em matéria de engordar o seu patrimônio ele já mostrou que foi feliz. Pode sê-lo agora, explicando convincentemente suas qualidades especulativas em matéria fazendária tanto quanto a negócios particulares.