Artigo de Augusto Nunes, publicado originalmente na página do autor em VEJA.com. Para acessá-lo clique aqui.
27/05/2011
às 21:48À saída do gabinete do procurador-geral do Estado, Fernando Grella, o presidente do PT paulista, Edinho Silva, informou nesta quarta-feira que a conversa de 40 minutos tratara do caso da quadrilha homiziada nos porões da prefeitura de Campinas. Como o elenco envolvido na roubalheira calculada em R$ 630 milhões inclui dois amigos do peito de Lula ─ o empresário José Carlos Bumlai e o prefeito, Doutor Hélio ─ a comitiva formada por cinco deputados estaduais estava lá para impedir que as investigações conduzidas pelos promotores do GAECO ultrapassassem as divisas do município.
“O partido não vai admitir especulações políticas em torno do ex-presidente Lula”, declamou Edinho. Também lhe pareceu absurda a decisão de engaiolar preventivamente o vice-prefeito Demétrio Vilagra, chefão do PT campineiro. “Não existe um único dado que justifique o pedido de prisão do companheiro Demétrio, que tem uma história vinculada aos movimentos sociais e não pode ser condenado publicamente”, protestou o líder da expedição. Ele desconfiou que a tentativa de intimidação não funcionara ao saber da réplica de Grella: “O procurador-geral reafirma seu apoio ao trabalho firme, sereno e imparcial desenvolvido pelos membros do Ministério Público no sentido do esclarecimento da verdade e da correta aplicação da lei, em cumprimento ao papel da instituição”.
Nos dois dias seguintes, como comprova o site de VEJA, teve certeza de que dera um tiro no pé. Preso nesta quinta-feira no aeroporto de Guarulhos, ao voltar da viagem a Madri, Vilagra passou a noite na cadeia. Nesta sexta-feira, Bumlai foi interrogado durante três horas. Acusada de liderar a quadrilha, a primeira-dama Rosely Nassim Jorge Santos precisará de muita imaginação para provar que o marido não sabia de nada. A história ainda em seu começo escapou de vez ao controle dos especialistas em livrar delinquentes do castigo.
Para abafar o escândalo que envolve também o amigo Ítalo Hamilton Barioni, o inevitável José Dirceu acampou em Campinas no domingo. Em reuniões com a turma, o consultor alertou-a para o risco de versões contraditórias. Dirceu certamente imaginou que a barulhenta passagem de Lula por Brasília impediria que o país ouvisse os estrondos em Campinas. Errou. A consultoria gratuita só serviu para identificar com nitidez o caso que efetivamente inquieta os comandantes do PT. O que lhes tem tirado o sono não é o que se soube de Antonio Palocci. É o que falta saber sobre a quadrilha que desviou centenas de milhões dos cofres públicos com licitações fraudadas.
A crise provocada pelo milagre da multiplicação do patrimônio está circunscrita a Palocci, pode ser resolvida com o afastamento do chefe da Casa Civil e o governo federal está conseguindo bloquear o avanço das apurações. O tumor descoberto em Campinas é mais perturbador. O Ministério Público paulista já demonstrou que não se subordina a interesses políticos nem teme arreganhos autoritários. Os promotores do GAECO estão decididos a fazer Justiça.
Ainda à espera de artistas bastante conhecidos, o elenco já em movimento promete fortes emoções. Quando estiver completo, a plateia não vai querer perder nenhum capítulo.