O ensino, no Brasil, nunca foi livre da partidarização. Me recordo, mesmo quando o assunto não era abordado tão abertamente nos livros didáticos, de inúmeros professores bradando contra o capitalismo maldito em sala de aula para alunos que sequer tinham alguma noção do valor do dinheiro ou do que fazia um político.
Recentemente o MEC, sob os auspícios de Fernando Haddad, aprovou uma série de livros didáticos em que o trabalho daqueles velhos professores seria tremendamente aliviado. Polêmica, lógico.
Os pais mandam seus filhos para a escola, na expectativa de eles aprendam aquilo que não se poderia ensinar com tanta eficácia dentro de casa. Um belo dia, descobrem seus filhos doutrinados, repetindo palavras de ordem, discursos vis e opiniões alheias como se fossem próprias.
O que faz o governo é indubitavelmente imoral e repugnante, mas é coerente com seu projeto. Difícil é ver a oposição fazendo cara de paisagem, como se nada tivesse a ver com isto.
O Bolívar Lamounier escreveu um brilhante artigo a respeito deste assunto, que está reproduzido no post anterior. Lembrei-me de John Locke, sabe-se lá por qual motivo, e encontrei este trecho de seu "Ensaio acerca do entendimento humano":
“Não parecia pequena vantagem aos que pretendiam ser mestres e professores considerar o princípio dos princípios que – princípios não devem ser questionados. Uma vez estabelecida esta doutrina, isto é, que há princípios inatos, situou seus adeptos com a necessidade de receber certas doutrinas sem discussão, desviando-os do uso de suas próprias razões e julgamentos, e levando-os a acreditar e confiar nelas sem exame posterior. Com esta postura de cega credulidade podem ser com mais facilidade governados, passando a ser úteis para certa espécie de homens que têm a perícia e função para guiá-los. Não é pequeno o poder conferido a um homem sobre o outro, ou seja, o de ter a autoridade para ser o ditador de princípios, professor de verdades inquestionáveis, e fazer com que uma pessoa tome por princípio inato o que deve servir ao propósito de quem as ensina. Ao passo que, se tivessem examinado as maneiras pelas quais os homens adquirem o conhecimento de muitas verdades universais, descobririam que elas resultam nas mentes dos homens mediante o ser das próprias coisas, quando devidamente consideradas; e que elas foram descobertas pela aplicação destas faculdades que são adequadas por natureza para recebê-las e julgá-las, quando devidamente empregadas.”
Ainda há muitos que consideram o projeto petista de poder como uma idéia tola de alguns paranóicos. Espero que eles estejam certos sobre isto. Se não - e é isto que eu acho - que não tardem a reconhecer o erro desta avaliação.