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domingo, 30 de janeiro de 2011

Fato irrelevante.

Com o devido crédito e respeito, trago aqui este brilhante artigo de Dora Kramer, publicado no Estadão deste domingo.

30 de janeiro de 2011 | 0h 00
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo


Terça-feira toma posse o Congresso eleito em 2010, que no mesmo dia elege os presidentes da Câmara e do Senado para os próximos dois anos, sem que a sociedade possa reconhecer a mínima relevância no fato nem consiga se identificar com o que ali se discute a respeito do início de uma nova legislatura.
O distanciamento não ocorre por acaso nem é fruto só da alienação de um povo despolitizado, pouco informado, insuficientemente educado: é principalmente produto do comportamento do Parlamento que se aliena da Nação e segue indiferente à gravidade da própria situação de fragilidade e desmoralização.
E qual é o cenário hoje, 48 horas antes da posse e da eleição dos chefes do Poder Legislativo? No Senado, José Sarney eleito por consenso pela quarta vez apesar de todos os conhecidos pesares. Debate, só entre os partidos para a divisão dos cargos na Mesa Diretora.
Na Câmara, a preocupação é que o deputado Sandro Mabel e sua promessa de construir um novo prédio para acomodar os gabinetes das excelências não atrapalhe a eleição do petista Marco Maia, já no cargo desde que substituiu Michel Temer depois da eleição do colega para vice-presidente da República.
Limita-se a isso a discussão, embora seja ampla a agenda necessária. Nenhum partido gasta um minuto com os problemas do Legislativo.
O PSDB, que saiu derrotado da eleição presidencial prometendo fazer e acontecer, no momento polemiza sobre um abaixo-assinado da bancada tucana na Câmara para a recondução de Sérgio Guerra à presidência do partido em detrimento de José Serra. Um monumento à irrelevância. A exceção é o minúsculo PSOL. Sem poder de influir, o partido elaborou um elenco de temas aos quais urgiria o Parlamento se dedicar.
Tem-se, então, que os "grandes" se dedicam a questiúnculas, enquanto o pequeno vai aos pontos.
São eles: 1. Recuperação da atividade legislativa como protagonista do Poder de representação popular; 2. Criação de uma agenda de trabalho para o primeiro semestre, incluindo a reforma política; 3. Fim da submissão ao Executivo, notadamente no que diz respeito às medidas provisórias; 4. Garantias de atuação para as minorias e respeito aos critérios de proporcionalidade; 5. Cumprimento estrito do regimento, sem atropelos de prazos e procedimentos; 6. Fixação definitiva de critérios para a remuneração dos parlamentares e da alta hierarquia dos outros Poderes;
7. Divulgação de todos os gastos, inclusive relativos à verba indenizatória; 8. Facilitação de acesso popular às sessões plenárias e de comissões; 9. Fim da "privatização" dos espaços internos da Câmara; 10. Proibição da posse de suplentes no recesso parlamentar; 11. Melhoria dos critérios de escolha e funcionamento das empresas prestadoras de serviços; para concluir, a mãe de todas as regras: 12. Rigoroso zelo pela moralidade parlamentar.
A esses podem ser acrescentados outros pontos, como os suplentes de senadores, e ainda não teremos completo rol de temas bem mais relevantes que a renovação de feudos e a consolidação de privilégios corporativos.
Risco zero. Dilma cancelou ida a inauguração de usina por causa de protestos dos ambientalistas. Antes havia cancelado o envio de reformas estruturais do Congresso por causa das dificuldades em aprová-las.
São dois atos distintos; o que os une é o esboço de um estilo avesso a enfrentamentos.
Ainda a serra. Geólogo, Lázaro Zuquette escreve para discordar de que as ocorrências na região serrana do Rio sejam um "case" digno de estudo minucioso. "Qualquer estudante de geologia sabe que a extensão da serra do Mar voltada para o oceano evolui devido aos escorregamentos e processos erosivos".
Cita como exemplo a ocorrência de 15 mil escorregamentos nas serras do Mar e da Mantiqueira entre 2010 e 2011, cuja maioria não atingiu pessoas nem bem e, portanto, não se caracterizaram como desastres.
E conclui: "O que aconteceu foi normal para a área, o anormal é que os administradores autorizam a ocupação urbana na região".


sábado, 29 de janeiro de 2011

Não preciso responder.

Numa análise simplista, a democracia pressupõe espaço e igualdade para todos; a aceitabilidade do contraditório, do divergente, e estabelece o diálogo e o respeito como ferramentas para administrar este conflito. Estabelece também o espaço físico, e agora também virtual, tecnológicamente falando, como limites.

Já falei várias vezes de como a esquerda não aceita, não pratica e não respeita estes preceitos. Mas sempre achei, e acredito que muitos também o acham, que isto se dava por simples ignorância mesmo; que se tratava de algo a ser explicado à eles e que, isto feito, poderia-se dialogar dentro das regras do jogo.

Pois bem. Acho que eu sempre estive equivocado a este respeito. Não. Eles não ignoram nada. O problema é que não aceitam mesmo, pura e simplesmente.

A visão radicalmente maniqueísta que eles tem do mundo e da sociedade não se baseia na ignorância; é uma visão mesmo, sólida e impenetrável. Eles realmente acreditam que a sociedade se divide em dois: eles e os outros (nós). E que os outros (nós) devem ser combatidos e se possível eliminados, nunca respeitados. Quando o Lula se referiu ao seu desejo de "extirpar o DEM da política" (sic) eu achei que era apenas jogo de cena, provocação barata e infantil. Da mesma forma, quando ele disse, em 2008 na ocasião do estouro da crise global,  que aquela crise havia sido provocada por "esta gente branca de olhos azuis" (sic).

Talvez ele, Lula, dado sua extrema esperteza e malandragem, realmente não leve a sério estas frases descabidas, apesar de tê-las dito. Mas a sua militância sim. E esta militância (sinônimo de estupidez coletiva) não se acanha, e ataca quem se opõe à eles sem comedimento, da forma mais irracional possível. 

Postei no Twitter recentemente que Lula era o resultado da cultura que sempre privilegiou a esperteza e a malandragem sobre a inteligência e a capacidade de realização. Que sua eleição para presidente representava a coroação desta cultura. Levando em consideração que ele conseguiu eleger Dilma Rousseff, uma fraude em todo e qualquer sentido que este termo possa ser aplicado à uma pessoa, e que a oposição permanece inerte e serena diante dos descalabros que vem ocorrendo, é evidente que esta cultura está longe de ser superada.

Toquei neste assunto, porque nesta semana, ainda dentro do ambiente virtual do Twitter, tratei com um amigo sobre a questão da verba destinada, em 2011, à publicidade do governo, R$ 622 milhões, excetuando as estatais. Considerei uma afronta à população, posto que para amenizar os efeitos da tragédia da região serrana do Rio foi disponibilizado (ainda não liberado) R$ 700 milhões; para ficar num exemplo só. Pois a militância petista se sentiu no direito de me atacar por expressar minha opinião, usando o característico argumento canalha de justificar o desmando petista pelo desmando tucano, como se isto fosse aceitável. Novamente a visão maniqueísta. 

Os tuítes estão devidamente guardados, mas não vou publicá-los. Primeiro para preservar outra pessoa que foi envolvida. E segundo porque não me sinto na obrigação de responder, dado que é exatamente isto que eles querem: exposição. continuo com minha opinião e continuarei expondo-a, incomode quem incomodar, é meu direito. Sobre as provocações petistas, não ligo, sempre gostei de apreciar os animais no zoológico.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Brasil de cartório sucumbiu ao temporal | Augusto Nunes - VEJA.com

O Brasil de cartório sucumbiu ao temporal | Augusto Nunes - VEJA.com

com o devido crédito, tomo a liberdade de postar aqui este texto primoroso de Augusto Nunes. Para acessar o original clique no link acima.


27/01/2011
às 20:02


A leitura da certidão de nascimento do Brasil Maravilha, registrada em cartório no dia 15 de dezembro, informa que a tragédia na Região Serrana do Rio só assumiu dimensões apocalípticas porque os brasileiros teimam em morar no país real presidido por Dilma Rousseff. Se vivessem no colosso que Lula inventou, estariam todos na praia ou numa quadra de escola de samba. As tempestades de janeiro não teriam feito mais estragos que uma velha garoa paulistana, as águas dos rios não se atreveriam a abandonar o leito, o mais frágil dos barracos seguiria ancorado na encosta do morro, os mortos seriam contados nos dedos das mãos e os flagelados caberiam numa creche do PAC.
É o que garante a página 278 do segundo dos seis volumes que agrupam os prodígios e milagres colecionados pelo maior dos governantes desde Tomé de Souza. Depois de localizar o trecho que descreve o que Lula fez para mostrar que sabe até domar a natureza, o repórter Bruno Abbud constatou que Dilma anda prometendo coisas que já existem. Há 10 dias, por exemplo, prometeu montar em quatro anos o Sistema Nacional de Prevenção e Alerta de Desastres Naturais. Não precisa. No país do cartório, o Sistema Nacional de Defesa Civil esbanja eficiência desde 17 de fevereiro de 2005.
O decreto-lei 5.376, que transformou o velho Sindec em coisa de primeiro mundo, explica que o órgão ”tem por finalidade: I – planejar e promover a defesa permanente contra desastres naturais, antropogênicos e mistos, de maior prevalência no País; II – realizar estudos, avaliar e reduzir riscos de desastres; III – atuar na iminência e em circunstâncias de desastres; IV – prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações afetadas, e reabilitar e recuperar os cenários dos desastres; V – promover a articulação e coordenar os órgãos do SINDEC em todo o território nacional”. Não é pouco. E não é tudo.
O sistema esboçado por Dilma pretende criar um Centro Nacional para Desastres Naturais, com sucursais nas cinco regiões do país, e ”prevê a implantação de sistema operacional de informações hidrológicas, metereológicas, climáticas e ambientais em tempo real, para prevenção e mitigação de desastres naturais”. Perda de tempo, informa o papelório com firma reconhecida. O Sindec já “instalou nas cinco macrorregiões geográficas do brasil as Coordenadorias Regionais de Defesa Civil, ou órgãos correspondentes, responsáveis pela articulação e coordenação do Sistema em nível regional”. Dilma só precisa descobrir onde ficam os prédios e os funcionários.
Precisa também ao padrinho que revele onde está aparato administrativo aperfeiçoado por feitos listados na página 278: ”I - 32.772 agentes capacitados em planejamento e administração para redução de desastres, operações de defesa civil, avaliação de danos, preparação para emergências químicas, formação de núcleos comunitários de defesa civil, dentre outros, em todos os municípios com coordenadorias municipais de defesa civil”; II - 531 cursos diversos de defesa civil realizados em todos os estados brasileiros, 504 obras de prevenção realizadas, tais como as de engenharia em áreas de risco de inundações, deslizamentos, desabamentos, entre outros desastres; III – 35.199 alertas expedidos pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Risco e Desastres (Cenad) aos estados e municípios, relacionados a eventos naturais como enchentes, deslizamentos, incêndios florestais, ciclones e vendavais; IV - 190 núcleos comunitários de defesa civil implantados em todas as regiões do Brasil, com apoio da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec): V - 2.099 coordenadorias municipais de defesa civil (Comdec) criadas no período de 2003 a 2010, elevando o número de municípios com estes órgãos para 4.299″.
Um sistema de prevenção semelhante a esse evitou que fosse reprisada na Austrália, igualmente devastada por tempestades, a matança ocorrida na Região Serrana. Por que o governo não mobilizou o Sindec para reduzir as dimensões iraquianas do desastre anunciado em 2008 num relatório da ONU? Porque os governantes australianos transportaram para o mundo real o que por aqui só existe na cabeça de pais-da-pátria sem compromisso com a verdade.
“No Brasil, em se plantando, tudo dá”, escreveu Pero Vaz de Caminha na Carta do Descobrimento. A certidão de nascimento do país do faz-de-conta, assinada pelo populista mitõmano e rubricada por ministros sabujos, comprova que Lula se convenceu de vez de que plantar mentira dá voto. Excitado com a colheita de três vitórias presidenciais, mandou empilhar num só documento os embustes, fantasias, invencionices, bazófias e imposturas que plantou. Acabou de descobrir que quem semeia mentiras pode colher tempestades assassinas. No primeiro temporal, o Brasil Maravilha apareceu com água pela cintura.
É só o começo. Vai morrer afogado por chuvas de verdades.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Instituto Millenium » A volta do nosso Delúbio

Instituto Millenium » A volta do nosso Delúbio

Tomo a liberdade, com o devido crédito e respeito, de publicar aqui este texto do Guillherme Fiuza, publicado originalmente na revista Época, e tambem no site do Instituto Millenium. Leitura altamente recomendada! Vejam o original clicando no link acima.


A volta do nosso Delúbio

janeiro 26, 2011
Autor: Guilherme Fiuza
pequeno normal grande
Guilherme Fiuza
Nelson Rodrigues dizia, com calculado cinismo, que a única possibilidade real de consciência é o medo da polícia. O grande dramaturgo não viveu para ver o dia em que nem o medo da polícia serviria como fronteira ética. À luz do dia, representantes da casta sindical que governa o Brasil informam que não têm medo de nada. Nem mesmo de articular a ressurreição de Delúbio Soares, uma das estrelas do mensalão – o episódio que, em dimensões inéditas, transformou a política em caso de polícia.
O cinismo de Nelson é brincadeira de criança perto da evolução moral do PT. O partido, que completará 12 anos no poder – envelhecido no puro malte de Brasília –, já trabalha para estender esse reinado para 16 anos, aproximando-se do recorde da era Vargas. Nessa marcha firme, vai-se impondo o seguinte princípio ético: o que a opinião pública engolir, está valendo.
Não foi à toa que Luiz Inácio da Silva se despediu da Presidência avisando que iria desmontar “a farsa do mensalão”. Em tese, o filho do Brasil não precisaria, do alto de sua popularidade sobre-humana, gastar um minuto com o capítulo negro do valerioduto. O povo já lhe dera o habeas corpus vitalício. Mas apagar a existência do mensalão é importante a médio prazo. A companheirada vai precisar de uma ficha mais ou menos limpa para levar a revolução dos cargos ao quarto mandato seguido – sem que a opinião pública desperte de sua soneca cívica.
Até aqui, tudo bem. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara, defendeu a reintegração do ex-tesoureiro Delúbio ao Partido dos Trabalhadores. Vamos repetir baixinho, para não perturbar o sono dos brasileiros: não foi um militante petista que disse isso em “off”. Foi o líder do governo, de cara limpa (até onde isso é possível), quem declarou publicamente que o lendário Delúbio, apontado pelo Ministério Público como um dos vértices da quadrilha que ordenhou o Estado em prol do PT, merece uma nova encarnação no partido.
“Nenhuma pena é eterna”, disse Vaccarezza. Pode-se questionar o teor filosófico da afirmação, mas pelo menos uma certeza cristalina ela traz: o pessoal perdeu completamente o medo da polícia.
É compreensível. Dos 40 indiciados por aquela fantástica operação de empréstimos fictícios, que faziam dinheiro público brotar na boca do caixa privado para os parlamentares fiéis, ninguém foi punido pela Justiça. Nem será. Passados mais de cinco anos, o escândalo já foi mais que engolido pela opinião pública. Ao lado dela, o Supremo Tribunal Federal aninhou-se na mesma soneca, para não fazer barulho no momento em que a candidata de José Dirceu chegava para a troca de guarda no palácio.
Com Dilma lá, o medo da polícia sumiu de vez. E o líder Vaccarezza pôde soltar seu brado definitivo sobre os mensaleiros: “Todos eles já pagaram um preço maior do que seus pecados”.
Quem imaginar que uma declaração dessas é a apoteose da cara de pau está redondamente enganado. A coisa é científica. O líder petista joga o disparate no ar para sondar o terreno. Não havendo reações significativas, ele fotografa o sismógrafo parado no zero e emite o sinal para os companheiros: todo mundo dormindo, caminho livre.
A ressurreição do “nosso Delúbio” (como dizia Luiz Inácio) é só um detalhe do projeto. O abraço apertado de Erenice Guerra na presidenta, em plena posse, foi parte da mesma experiência científica altamente bem-sucedida. O laudo é conclusivo: o povo não está nem aí para o tráfico de influência. E lá vem mais um teste de laboratório ao vivo: José Sarney, flagrado com o filho e o também lendário Agaciel Maia usando o parlamento para empregar seus simpatizantes, já foi lançado para presidir novamente o Senado.
Tudo normal. Na ausência de Nelson Rodrigues e da polícia, não há mesmo mais nada a temer.
Publicado na revista “Época”

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pequenas mentiras.

Em alguns posts recentes, voltei a tratar da questão da mentira, especialmente daquele tipo sutil, muito usada por Lula e alguns comparsas, para confundir a platéia, subverter alguns valores e algumas percepções.

A participação em algumas redes sociais, particularmente o Twitter,  nos propicia uma visão interessante dos acontecimentos. Ali sim é possível perceber o que significa a expressão "em tempo real": poucos minutos após a divulgação de alguma notícia, vemos a profusão de exclamações a respeito do assunto.

Assim foi com a divulgação da decisão de Lula sobre o terrorista de esquerda e assassino condenado Cesare Battisti. Assim foi com o anúncio de cada novo (velho) ministro do novo (velho) governo. Assim foi com as primeiras notícias sobre a tragédia na região serrana do Rio. 

Infelizmente, através desta observação do comportamento das pessoas, nas redes sociais e também nas relações comuns do cotidiano, constata-se uma visão geral equivocada, por boa parte da população, do papel da imprensa, e tambem sobre alguns direitos e deveres.

Presenciei cobranças severas, por parte de leitores a jornalistas, sobre fatos e notícias dos quais aparentemente pouco se sabia. Algumas pessoas se apressam em criticar ou até mesmo censurar a imprensa por divulgar notícias e matérias envolvendo assuntos fúteis, quando o mundo parece estar acabando. Estas mesmas, se omitem completamente diante de um deputado ou senador pego em flagrante delito.

O entendimento de que a imprensa tem a obrigação de divulgar os fatos, agradem ou não a quem quer que seja, parece não ser comum, e a interação diária com as pessoas evidencia isto cada vez mais. Este tipo de censura, baseada na opinião e preferência pessoal interessa apenas àqueles que de alguma forma compactuam com o autoritarismo. Este comportamento vem se intensificando com as pequenas mentiras diárias, propaladas sorrateiramente. Chega a assustar a quantidade de mensagens no Twitter de pessoas mandando os meios de comunicação se calarem ou fazerem corretamente o seu trabalho. Mas o que significa fazer corretamente o seu trabalho, no que se refere a imprensa?

A batalha empreendida por muitos jornalistas, articulistas, professores, blogueiros e demais cidadãos preocupados com a nossa liberdade de expressão, nos últimos anos, diante do avanço autoritário do governo federal, foi heróica e louvável e o ânimo não deve arrefecer. Mas temos que atentar também para as pequenas afrontas que são praticadas diariamente contra este direito sagrado. A mais temível é esta ação de induzir o cidadão, por meio de pequenas e aparentemente inofensivas mentiras, a questionar tudo e censurar de imediato os meios de comunicação, desqualificando a fonte da informação. O ideal é muito simples: se não é do seu interesse, não leia, não assista, não ouça...é esta ideia que deve prevalecer.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Oposição, por favor.

Oito anos de governo Lula se passaram. Oito anos em que ouvimos diariamente a auto-louvação do ex-presidente. Oito anos ouvindo diariamente a celebração de militantes ao messias da classe operária, das minorias, dos movimentos sociais. A paciência foi levada ao limite e se exauriu. 

Dentre incontáveis mentiras e boçalidades proferidas neste período pelo ex-presidente da república, e replicadas pelos seus partidários e militantes, uma sempre me incomodou, particularmente: a de que era impossível governar sem coalizão. O ex-presidente chegou ao disparate de dizer que até Jesus Cristo, se voltasse à Terra, teria que se aliar com Judas para conseguir algo. Melhor não comentar esta frase em particular.

O meu incômodo se dá, principalmente, pela percepção pessoal de que no Brasil, a mentira não tem uma perna tão curta assim, como diz o ditado popular, principalmente enquanto a mesma sustenta certas conveniências.    

Existe hoje, na sociedade, uma cobrança, um anseio muito grande por uma oposição. Uma parcela enorme de cidadãos, a maioria, dependendo da forma como se analise os núneros da eleição presidencial, clama por ao menos um partido que se posicione e cumpra este papel.


O ex-presidente trabalhou com muito empenho em seus dois mandatos para minar a credibilidade da oposição, e contou com a atuação patética da mesma, para não dizer suspeita, neste sentido. Foram incontáveis declarações em discursos e entrevistas, sempre no intento de apontá-la como um empecilho, um obstáculo à sua vontade de trabalhar e fazer pelo povo. O tom foi crescendo, sem que ninguém o repreendesse, até culminar com a célebre frase sobre "extirpar" o DEM da política nacional, num comício em Santa Catarina, ainda no primeiro turno das eleições de 2010. Ao dizer em seu discurso de posse, que estaria disposta a "estender a mão à oposição", Dilma segue no mesmo caminho de seu antecessor. Pode ter mudado o estilo, mas o objetivo continua o mesmo: desqualificar a oposição e colar-lhe a pecha de inimigo público.

O PT, personificado pelo ex-presidente, tornou-se uma máquina eleitoreira despudorada e sem limites. Não demonstra hoje nenhum respeito pela democracia. Trabalham incansavelmente visando eleições. Visando votos. Praticamente nada que não possa ser convertido numa propaganda positiva de sua atuação no comando do Executivo interessa à eles. As notícias sobre a tragédia na região serrana do Rio, chocam: prefeituras das cidades atingidas dificultando e até proibindo o auxílio da Cruz Vermelha às vítimas. Governo Federal recusando ajuda da ONU. Nem sobre cadáveres, eles deixam de pensar em votos.

É preciso, com desesperada urgência, uma oposição atuante e alerta no Brasil. A relação espúria criada pelo PT com o PMDB e demais partidos da base aliada, baseada na concessão de cargos e controle de verbas e orçamentos, visa evidentemente o enfraquecimento destes, até torná-los completamente submissos e dependentes. Se os partidos de oposição jogarem a toalha antes do fim do primeiro assalto, como indica lamentáveis ações e  declarações de políticos graúdos do PSDB até aqui, corremos o risco de ver um partido único atuando no Brasil antes de 2014. 


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sinais

Não faço parte daquele grupo que reverencia o samba e seus bambas. Não gosto do carnaval. Não cultuo Chico Buarque, Caetano Veloso, nem Gilberto Gil (tambem não tenho nada contra). Não calço botas, nem uso chapéu de cowboy, nem monto qualquer animal. Não consigo levar a sério uma única idéia que seja da esquerda. Estou, segundo um amigo, totalmente fora daquilo que se considera o brasileiro padrão. Pelo menos daquilo que a propaganda oficial e a mídia em geral tenta impor como padrão.


E como o marketing ganhou importância hoje em dia. Em alguns casos tem-se a impressão de que é mais importante "atingir o público alvo" do que estar sendo correto ou agindo como manda a lei. Acho que os oito anos de governo Lula embasam o que digo. 


Infelizmente, de forma sempre trágica, a realidade destroça aquilo que foi criado em estúdios e escritórios de publicidade.

Não sou especialista em nenhum assunto, mas não deixo de ler o que se noticia, nem de observar os fatos e acontecimentos. Alguns sinais dizem muito.

Já disse, em outras oportunidades, que a imagem de Dilma Rousseff se confraternizando, na cerimônia de posse, com José Dirceu, Fernando Collor e Erenice Guerra, são suficientes, na minha opinião, para desmentir qualquer afirmação dela sobre promover o combate a corrupção. Muitas explicações ainda são devidas à sociedade sobre o caso de Erenice Guerra e elas não foram dadas. Pior. Estão começando a cair no esquecimento.

A sabujice explícita, tanto de Dilma quanto do governador Sergio Cabral, na entrevista sobre a tragédia na região serrana do Rio, onde sem constrangimentos, celebraram Lula, o PAC e os demais programas fantasiosos do governo federal tambem deixam uma péssima impressão. Sobre mortos e destruição, não hesitaram em fazer propaganda. 

A barganha de cargos no governo se estende da forma mais repugnante possível, Tanto que Antonio Palloci acabou incumbido de ajudar Luis Sergio, das Relações Institucionais. Um incômodo que a pessoa que dá credibilidade e estabilidade ao governo seja aquele que, flagrado em situações suspeitas, usou do seu poder e influência contra um cidadão comum para encerrar o assunto. 


A frase do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da força, publicada numa matéria da Folha de São Paulo, diz praticamente tudo sobre os entendimentos entre o governo e os partidos aliados: "Na campanha levei quatro processos e tive de pagar R$ 25 mil de multa para o Serra, tudo em defesa da Dilma. E agora não tem nem muito obrigado?"

O incômodo é que frases como esta, ditas sem constrangimento, vão lentamente diluindo a percepção do certo e do errado, levando gradativamente o cidadão desavisado a entender que não há mal nenhum onde há mal demais, quase levando à uma completa inversão de valores. 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Justificativas

Algumas notícias desta semana trouxeram de volta um comportamento que eu julgava que não veria mais: a militância lulo-petista buscando, de todas as formas possíveis, justificativas para os desmandos e bobagens de seu guia, como era carinhosamente chamado o ex-presidente pelo ex-chanceler Celso Amorim.

O caso Cesare Battisti, obviamente continua em pauta, rendendo notícias diárias, e hoje pululou no twitter uma matéria sobre o uruguaio Jorge Trocolli, capitão da marinha daquele país e envolvido na "Operação Condor". A Itália, segundo a matéria, se nega a extraditá-lo para o Uruguai. Não sou advogado, nem estou com paciência para pesquisar e ler acordos diplomáticos e leis de outros países para entender o caso a fundo, o que basta aqui é que isto não serve de  atenuante, desculpa, absolvição ou endosso para a palhaçada de Lula em seu último dia de mandato. Já saturou, e muito, esta atitude ridícula de tentar justificar Lula pelo que foi feito antes, por outros, especialmente se da oposição. Não acredito que alguma pessoa minimamente inteligente aceite algo tão ridículo e infantil. Isto, na minha humilde opinião, mostra outra coisa, diferente do objetivo - é lamentável quando alguém, quem quer que seja, precise ser constantemente defendido e justificado por outros. Se os atos e posturas não bastam, é porque tem muita coisa errada. Alguém que possui tanta popularidade, como divulga-se, precisa de tantos defensores? Sei...

Alumas pessoas, geralmente mal intencionadas, costumam dizer que "feio é roubar e não conseguir carregar". Esta pérola expõe muito do jeito de pensar de alguns brasileiros. Considero repugnante. Mas ilustra quase que perfeitamente o entendimento político dos defensores de Lula.






sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Até quando...

Quando você pensa que não tem como piorar, Nelson Jobim te surpreende. José Genoíno, o mais desmoralizado publicamente pelo escândalo do mensalão, que nem conseguiu votos suficientes para se eleger deputado federal, foi convidado para ser assessor especial do ministro da Defesa. Tap!

Não bastasse ter que pagar a conta das férias dos Lula da Silva, ainda temos que engolir o escárnio desta nobre família para com o povo. Na mediocridade do pensamento lulista o problema é a inveja que se sente deles. Somos "jumentos" invejosos, uma minoria. Típica estupidez esquerdista. Já que eles são "maioria", podem. Pelo menos julgam assim e nos julgam invejosos. Parece que a OAB resolveu se mexer com relação aos passaportes diplomáticos concedidos pelo chanceler em miniatura, Celso Amorim, em nome dos interesses nacionais à tão nobres cidadãos. Tap de novo!

Bom, aparentemente o PSDB começa a acordar tambem (espero não estar sendo demasiado otimista) e resolveu "criticar" Lula e a barganha vergonhosa de cargos entre PT e PMDB na primeira semana de governo. Agora podemos continuar fingindo que acreditamos que existe oposição no Brasil.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Mudando um pouco de assunto: Mark Knopfler, ainda...

Em música, quando falamos de arranjo, falamos da forma como uma composição é executada pela banda, conjunto, orquestra ou qualquer outra formação musical. Uma composição pode ser modificada completamente pelo arranjo, até o ponto de praticamente não lembrar o original.

No Jazz, é muito comum ouvirmos a mesma composição, em diversas interpretações e arranjos. Summertime, clássico de George Gershwin, pode ser ouvido em diferentes versões, todas magistrais, de músicos do quilate de Miles Davis (minha versão favorita) Charlie Parker, John Coltrane e Ella Fitzgerald entre outros. Faz parte do universo jazzístico e tambem do Blues, um tema ser reinterpretado e rearranjado constantemente, permitindo aos músicos aquilo que tem de mais prazeroso: o improviso. Mas isto é assunto para outro dia.

No rock a mudança de arranjo é algo mais raro, limitando-se a algumas poucas modificações efetuadas em apresentações ao vivo. Mas tem um exemplo que eu quero destacar aqui: Portobello Belle, canção do segundo álbum do Dire Straits. Escolhi não apenas pela verdadeira transformação que ela sofreu para uma turnê da banda, versão que acabou registrada na coletânea Money for Nothing, mas tambem pelo fato dela evidenciar o amadurecimento de um músico extremamente talentoso e inquieto, que não se prende a modismos.

Abaixo a versão original, do segundo álbum da banda, Communiqué de 1979.



Agora, ouça a versão que foi registrada na coletânea Money for Nothnig, de 1988, e veja como o arranjo pode transformar uma música.

Acho que ainda não viramos a página.

Quem acreditou que a partir do dia 2 de janeiro o Brasil começaria a viver uma nova fase, sob um novo governo, podendo deixar no passado as arbitrariedades, bobagens e disparates de Lula e do cordão de puxa-sacos que o cercava, se decepcionou novamente.

Ainda nem terminou a primeira semana do ano e o PMDB já se engalfinha com o PT, ambos rosnando e mostrando as garras, pelos cargos do segundo escalão. A desfaçatez volta a dar o tom, pois até o salário mínimo está sendo usado na perfídia. 

Guido Mantega, convoca a imprensa para falar absolutamente nada, cria expectativa e sacode o mercado financeiro, dando um exemplo de como NÃO deve agir um ministro. Novamente.  Texto primoroso a este respeito foi escrito por Maílson da Nóbrega em seu blog

No último dia de seu reinado, Lula comete a maior de suas besteiras e decide não extraditar o terrorista italiano, e assassino condenado, Cesare Battisti, causando um imenso incidente diplomático com a Itália, que, goste-se ou não de Sílvio Berluscone, é um país democrático. A conversa fiada de que se tratou de decisão soberana do ex-presidente convence apenas os tolos. O motivo foi claramente ideológico, como atesta a participação no caso de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo, além do endosso de Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. 

Como se não bastasse; quando julgava-se este desencarnado do poder, divulga-se que Lula passa férias com a  família no Guarujá, por conta do contribuinte, com direito a escárnio dos 'Lulinhas', via Twitter, para com os indignados, os mesmos 'Lulinhas', que noticiou-se hoje, receberam passaporte diplomático do Itamaraty, no apagar das luzes da gestão de Celso Amorim, sempre ao dispor de seu "guia".

Ao contrário do que alguns tuitaram e divulgaram em suas páginas de Facebook entre ontem e hoje, não viramos a página não, Lula continua esbofeteando a cara do cidadão de bem e agora livre do embaraço da liturgia do cargo para escarnecer de quem ousar reclamar. Se bem que isto para ele nunca foi problema.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mudando um pouco de assunto: Mark Knopfler


O som possui 4 propriedades: altura, volume, timbre e intensidade. Numa aula de teoria musical, há muitos anos, no teatro São José, aqui em Piracicaba, o professor ao explicá-las, se ateve à última. Dizia ele que ela é que conquistava o ouvinte, que "mexia" de alguma forma com as pessoas. Dizia que o músico que não dominasse esta propriedade do som em seu instrumento ainda não estava pronto. Um amigo, grande guitarrista, costumava dizer, nas mesas de boteco, sobre a mesma, que era ela o que os críticos chamavam de feeling. Não sei se ele bebia demais ou se os críticos bebiam de menos.



Quando ouvi, pela primeira vez, Tunnel of Love, música do terceiro álbum do Dire Straits, lembrei-me da explicação do professor. Faz muitos anos e até hoje considero uma composição exemplar. Gosto muito da forma desta música, do desenvolvimento do tema, do encadeamento harmônico, do ritmo sempre oscilando de intensidade. Ela segue  com pequenas paradas rítimicas e retoma até certo ponto onde vai esmaecendo, próximo do final, indo ao mínimo num dado momento, quase ao silêncio, e volta crescendo lentamente, para desembocar no solo final. É isto que mexe com o ouvinte, e quem já esteve numa platéia, num estádio, sabe o efeito disto. 



Mark Knopfler tem esta característica entre muitas outras. Sabe trabalhar como poucos a intensidade do som. 

Dos anos 90 para cá, uma geração inteira de guitarristas, passaram a privilegiar acrobacias técnicas e uma velocidade inimaginável em detrimento da musicalidade. Lamento mas, como costumava dizer meu amigo querido, mais valia um bend do David Gilmour ou um vibrato do B. B. King, do que 12 compassos  de sextinas, com o metrônomo a 140 pbm's de um John Petrucci. Se John Petrucci já não é ninguém hoje, perdôem-me, mas depois dele não me interessei por conhecer o trabalho de nenhum outro destes virtuoses. Ainda prefiro ouvir uma única nota de Mark Knopfler. 




Para deleite dos fãs, ele usa e abusa de diversos clichês de que dispõe um guitarrista, enchendo seus solos de bends, vibratos, arpegios, tríades e harmônicos, mas sempre oscilando na intensidade, mexendo até com a respiração do ouvinte em alguns momentos. É técnica à serviço da música. É melodia e harmonia. Um músico que serve a arte e não o contrário. 



Mark Knopfler divide com outro monstro das seis cordas, Jeff Beck, a característica peculiar de usar os dedos da mão direita, e não uma paleta, para tocar as cordas da guitarra ou do violão. Com isto num curto trecho melódico, dentro do mesmo compasso, consegue executar 3 curtas e suaves notas de passagem que desembocam num bend vigoroso e longo, praticamente fazendo o ouvinte se levantar. Ouça Brothers in Arms e entenderá do que estou falando.





Ele nunca escondeu suas diversas influências, que vão desde músicas folclóricas e tradicionais da Irlanda, da Escócia e da Inglaterra, ao folk, blues e jazz norte-americanos, numa salada temperada com um estilo único e inconfundível. Nem preciso falar da voz particularíssima.


Numa entrevista, ele chegou a afirmar que gostava de assistir na TV programas sobre a natureza, com a guitarra ou o violão no colo. Dizia se inspirar nas paisagens, buscando notas que combinassem. Especulo que isto o tenha levado a enveredar pelo cinema, escrevendo trilhas sonoras tão boas quanto as músicas que compôs ao longo dos anos para o Dire Straits e para sua carreira solo.


Deixo como dica, seu último álbum, Get Lucky, lançado em 2009, tão bom quanto qualquer outro lançado pelo Dire Straits. Abaixo o clipe oficial de Cleaning my Gun.






Na pressão por cargos, PMDB agora ameaça rejeitar mínimo de R$ 540 - politica - Estadao.com.br

Notícia publicada originalmente no Estadao.com.br. Para acessar basta clicar no link abaixo:

Na pressão por cargos, PMDB agora ameaça rejeitar mínimo de R$ 540 - politica - Estadao.com.br


Atitude é clara retaliação ao governo por perda de cargos estratégicos no segundo escalão

04 de janeiro de 2011 | 23h 00

Adriana Fernandes, Vera Rosa, Fábio Graner e João Domingos - O Estado de S.Paulo
Três dias depois do início do governo, o PMDB do vice-presidente Michel Temer tenta encurralar a presidente Dilma Rousseff. Insatisfeito com os avanços do PT sobre os cargos do segundo escalão com orçamentos bilionários, antes controlados pelo partido, o PMDB anunciou que iniciará a retaliação pela votação do novo salário mínimo. O governo quer mantê-lo em R$ 540; o PMDB quer mais.
Essa reação era a que Dilma mais temia. Antes mesmo de tomar posse, ela vinha sendo aconselhada pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (PT), a tomar cuidado com o PMDB, especialista em usar o peso de sua bancada para pressionar por cargos importantes no governo.
Um eventual aumento do salário mínimo provocará um estrago nas contas do governo. No último dia como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva editou medida provisória fixando o mínimo em R$ 540. De acordo com o Ministério do Planejamento, cada real representa um aumento de R$ 286,4 milhões no Orçamento. Mas a elevação do valor não significa só o impacto nas contas públicas. Se o PMDB comandar uma operação de reajuste, estará ameaçando logo no início do governo a política de austeridade fiscal pregada por Dilma.
Alvo. Porta-voz da revolta dos peemedebistas, o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN) - até agora uma espécie de alvo dos petistas na maioria das rasteiras levadas pelo PMDB no preenchimento dos cargos - anunciou nesta terça-feira, 3, depois de uma reunião com Temer e com os senadores José Sarney (AP), presidente do Senado, e Valdir Raupp (RO), presidente interino do PMDB, que o partido quer saber por que o governo chegou ao valor de R$ 540. Disse que poderá ser maior e levou o pleito ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. "O Congresso existe para melhorar as propostas, não só para carimbá-las."
O PMDB programou uma reunião ontem à noite com ministros e as lideranças do partido, em Brasília, na casa da governadora Roseana Sarney(MA).
Antevendo a crise, Dilma já havia convocado Temer e Sarney a ajudá-la. Ao mesmo tempo, Palocci telefonava a peemedebistas para dizer que o PMDB terá postos no segundo escalão equivalentes aos que perdeu na Saúde e nos Correios.
Ainda na noite de segunda-feira, Temer aproveitou a primeira reunião da coordenação política do governo para pedir a Dilma que adiasse a escolha dos cargos do segundo escalão para depois da eleição das Mesas da Câmara e do Senado, em 1.º de fevereiro, como revelou o Estado. A intenção era evitar que a crise contaminasse as votações. Dilma acatou as ponderações. No dia seguinte, no entanto, o PMDB apresentou a primeira cobrança à presidente, por um mínimo maior.
Recados. A reação no Planalto, de acordo com assessores de Dilma, foi de estupefação. Depois de uma conversa com Palocci, Dilma foi aconselhada a manter o diálogo e esperar pela posse do novo Congresso, com renovação de cerca de 50% das cadeiras. A presidente, no entanto, mandou recados ao PMDB por intermédio do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Se vier algo diferente disso (R$ 540), vamos simplesmente vetar", disse. "Um aumento acima disso pode provocar expectativas negativas, até mesmo de inflação", acrescentou. Mantega afirmou ainda que um valor maior deterioraria as contas públicas.


Comento:

Coalizão, distribuição de cargos de confiança e indicações políticas para cargos que deveriam ser ocupados por técnicos não são novidade, não nasceram neste governo, nem no anterior, porém nunca houve (pelo menos eu não me recordo) tamanha sanha e exposição disto. Não há mais discrição; o balcão de negócios agora é público e não há constrangimentos em admitir o toma lá, dá cá. Sem cargos, sem apoio. O recado é este e é claro. Qualquer coisa tem servido como instrumento de negociação, como a questão do salário mínimo. Este governo mal se organizou, mal começou a governar de fato; ainda não ocorreram as eleições para as presidências da Câmara e do Senado e já há uma tensão escancarada entre os dois principais partidos que compõe a base do governo. Péssimo para a sociedade, e ainda mais com uma oposição de mentirinha.