A interatividade das redes sociais na internet é algo admirável e entusiasmante, principalmente para quem nasceu antes desta realidade e duvidava de sua viabilidade, apreciando algo semelhante apenas em livros, filmes e gibis de ficção científica. Quem se lembra dos antigos desenhos animados de um personagem chamado "Johnny Quest", onde o mesmo se comunicava com seu pai e seus amigos, através de um visor em seu relógio, entre outras maravilhas tecnológicas, sabe do que estou falando. Este personagem data da década de '60 do século passado e foi maciçamente exibido pela TV brasileira no fim da década de '70 e toda a década de '80. Quem é desta geração e acompanhou o recente lançamento do iPhone 4 com certeza sentiu-se um pouco criança outra vez.
Tenho acompanhado o debate eleitoral, não só pelos jornais e TV, mas tambem pela internet, nos sites de notícias e tambem nas redes sociais, principalmente o Twitter e o Facebook, e um sentimento de desânimo me abateu. Com as entrevistas promovidas pelo Jornal Nacional, com os 3 principais candidatos na disputa presidencial, e pelo debate promovido pela Rede Bandeirantes, este incluindo um quarto candidato, houve uma verdadeira inundação de comentários e artigos nestas redes e fiquei impressionado com o nível de desconhecimento sócio-político e ingenuidade por parte de muitos internautas, mas me abateu principalmente constatar estas características em muitos que possuem formação acadêmica e supostamente bom nível cultural e intelectual.
Alguns destes comentaristas pareciam ignorar completamente a importância do debate para o futuro do país, tratando o assunto como torcedor em estádio, vibrando ora com um suposto acerto do seu favorito, ora com um suposto erro do seu adversário, outros pareciam olhar apenas com viés marqueteiro, como se governantes fossem produtos num display em supermercados, passíveis de troca ou devolução ou de simples descarte em caso de arrependimento na compra; e outros ainda me surpreenderam com o velho discurso paranóico sobre a manipulação eleitoral por parte da Rede Globo, por exemplo. Que muitos receiem se manifestar sobre este assunto ou marcar posição, por temer confrontação, exposição ou até prejuízo da imagem comercial que ostentam é até compreensível, mas alguns casos são de dar pena.
A cada dia, processos, ferramentas e modelos administrativos e de gestão dos mais variados campos que possa haver dentro de uma empresa, privada ou pública, são aperfeiçoados. Mais e mais cursos de especialização, pós-graduação e outros níveis que se atribuam aos mesmos, surgem no mercado, sempre da forma positiva, salutar e necessária, mas me deixa estupefato como muitos novos gestores (e eu sou deles) estão completamente alheios a questão política e isto não é saudável. Espantou-me, após o debate da Rede Bandeirantes (que foi de uma mediocridade impressionante, diga-se de passagem), ver inúmeros comentários, muitos com teor infantilmente provocativo, sobre preferências pela direita ou pela esquerda. Parece que quase ninguém reparou que não há "direita" no Brasil. Pelo menos não havia no referido debate, posto que os 4 partidos políticos ali reunidos sejam, em essência, de esquerda (Sim, para quem ainda não reparou, o PSDB é sim um partido essencialmente de esquerda, uma esquerda moderada, baseada na chamada Social-Democracia).
A pérfida influência que muitos professores universitários ligados às antigas idéias de uma esquerda sepultada ainda exercem sobre alunos em geral, a despeito de suas obrigações e atribuições, é péssima para a sociedade e somada a atrofia intelectual gerada pela conduta "politicamente correta" adotada hoje em dia, está formando uma geração de pessoas que simplesmente não se expressam, não dizem nada, não se manifestam nem tomam partido de nada. Consolida-se a apatia e o distanciamento da realidade como modelo de comportamento socialmente aceito. A maioria dos que tentam romper com este comportamento revela desconhecimento, até uma certa ingenuidade.
Manisfesto-me sobre este assunto por acreditar que podemos elevar o nível do debate, exigindo de forma enfática, séria e irredutível dos candidatos, independentemente de orientação ou filiação político-partidária, a apresentação de projetos e propostas concretas, sólidas e viáveis sobre questões fundamentais para a sociedade, como saúde, educação e segurança por exemplo. Ora como gestores, exigimos de equipes e colaboradores, análises de mercado, planos de negócios, estudos de viabilidade, planilhas de fluxo de caixa e controles diversos, mas como contribuintes exorbitantemente taxados das mais variadas formas adotamos uma postura bovinamente pacífica diante de candidatos que permanecerão, no mínimo, 4 longos anos no comando de um Poder da República, afetando nossas vidas de forma, às vezes, irretratável. Acho que precisamos como sociedade, mudar esta postura.