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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O quarto sacrifício...

Na noite de ontém, me surpreendi quando, no twitter, o querido Sandro Vaia postou o vídeo que segue abaixo. Trata-se do documentário feito por Glauber Rocha em 1966, a pedido de José Sarney, então eleito governador do Maranhão pela primeira vez. Ouçam o discurso. Vocês ouvirão um homem falar da situação atual do estado do Maranhão. Só que em 1966. Este homem é José Sarney.

Outro que mencionou este documentário, em sua coluna na revista Veja, em sua última edição, foi Roberto Pompeu de Toledo. Tomo a liberdade de transcrever o trecho do brilhante artigo. Ele está na edição 2203 - ano 44 - n° 6 - de 9 de fevereiro de 2011.

"...e lá vem Sarney de novo. Pela quarta vez, com "sacrifício pessoal", como disse em seu discurso, assumiu a presidência do Senado. Em 1955, como lembrou no mesmo discurso, ele estreou no Parlamento, assumindo uma cadeira na Câmara. Já lá se vão 56 anos, ou quase o dobro dos trinta que Hosni Mubarak acumula como ditador do Egito. Se a conta for feita desde 1966, quando toma posse como governador do Maranhão e, num memorável discurso, filmado por Glauber Rocha, afirma que "o Maranhão não quer mais a desonestidade no governo, a corrupção (...), não quer mais a violência como instrumento de política (...), não quer mais a miséria, o analfabetismo, as mais altas taxas de mortalidade infantil", são 45 anos - um Mubarak e meio. Se for desde 1979, quando, fiel servidor da ditadura, é feito presidente da Arena, o partido do regime, são 32 anos - mais que um Mubarak. E se for desde 1985, quando a Presidência lhe caiu ao colo, são 26 anos - quase um Mubarak.
   A sina do Maranhão, governado, nos últimos 45 anos, por Sarney, familiares ou prepostos, a não ser por curtos intervalos, continua sendo a da desoneestidade, da corrupção, da violência, da miséria, do analfabetismo e das altas taxas de mortalidade infantil. Mas Sarney, aos 80 anos, dois a menos que Mubarak, alcançou a plenitude da glória. Na primeira hora da madrugada do último dia 1° de janeiro, foi presença de honra na cerimônia de posse da filha, pela quarta vez, como governadora do Maranhão. Voou em seguida para Brasília, onde, como presidente do Congresso, deu posse à nova presidente da República. E, à noite, ainda viajou com o presidente Lula a São Bernardo, onde figurou como atração especial no comício/show montado para receber de volta o mais ilustre morador da cidade. Haja Sarney! ele promete, como Mubarak, que este é seu último mandato. Nem precisaria de outros. Este é um país intoxicado de Sarney. Na academia, nos jornais e alhures, discute-se se estaríamos vivendo ainda uma era FHC, graças ao rescaldo de suas reformas, ou uma era Lula. Nada disso. O páis vive, há mais de maio século, a era Sarney."


Por pior que possa parecer, o Egito sobreviverá a Hosni Mubarak.