Recentemente me fiz a seguinte pergunta: seria possível que a atual relação de prosmicuidade entre o Executivo e o Legislativo, um reflexo da relação entre o partido do governo e os demais da base aliada, significasse uma inversão de valores? Uma boa educação e um razoável conhecimento das leis que regem nossa sociedade, denotam uma postura e atitude de respeito às instituições, às leis e ao convívio social de modo geral. Seria, a partir desta ótica, natural que o cidadão se indagasse se estaria ou não agindo corretamente em relação a algum fato ou problema, guiando-se a partir de então, pela resposta, na condução do mesmo.
A impressão que fica, ao observarmos as atitudes e declarações de alguns políticos, todos os ligados ao governo, e alguns da oposição (entendendo-se que embora inerte ela existe) é de que, na prática, busca-se única e exclusivamente um modo de burlar as leis em benefício próprio. Não é ingênuo afirmar isto. É fato que isto existe e sempre existiu, sendo que é isto mesmo o que define o canalha, o crápula, o corrupto. Mas na dimensão e com a visibilidade que isto vem ocorrendo, acredito que "nunca antes...". É dedutível e lógico, embora não aceitável, que existam exceções à regra. Que hajam alguns corruptos entre muitos honestos. Que ocasionalmente alguém seja flagrado aceitando propina, suborno, tentando regularizar uma ação indevida, fraudar uma licitação, procurar (e o mais preocupante, encontrar) maneiras e dispositivos de escapar ao que rege a lei e consequentemente à punição. Mas o que vem se vendo ultimamente é sim a inversão desta lógica: a negociação, aberta e livre de constrangimento, de cargos no governo e em estatais, com foco exclusivo na receita administrada por estes. Não há demonstração alguma de preocupação com um projeto, uma proposta de melhoria ou desenvolvimento a qualquer destas áreas. Não há um programa elaborado por qualquer partido que seja, que possa ser debatido; que seja defendido por seu autor ou autores como uma saída, uma alternativa ou solução para qualquer que seja das mazelas as quais a sociedade está sujeita. Debatem ampla, aberta e desavergonhadamente quanto dinheiro estará sob comando da pasta almejada. Querem convencer quem de boas intenções desta forma?
E nossa sociedade? permanece calada e mansa diante de cada descalabro que vem à tona diariamente. Elege Tiririca, Romário, Sérgio Morais, entre outras calamidades, dando-lhes um salário vultoso, privilégios e regalias que nenhum outro cidadão tem. Alguns o fazem por pura ignorância e inconsequência. Outros motivados pela cultura estúpida do "voto de protesto". Quantas noites de sono perdeu José Sarney pelos votos de protesto da última eleição?
Enquanto isto o país sucumbe novamente à completa falta de investimento em infra-estrutura e planejamento e ao mau gasto do dinheiro público. Como pode faltar dinheiro para qualquer coisa que seja num país com uma carga tributária de quase 40% do PIB? Os apagões ocorrem novamente para desmentir a verdade oficial da nossa excelência administrativa e de planejamento. Mas insiste-se na mentira.
As velas aos mortos na região serrana do Rio ainda nem se apagaram, mas já se faz mais urgente acudir as escolas de Samba, em vista da proximidade do carnaval.
Enquanto isto, alguns jornalistas e blogueiros "progressistas", cantam em prosa e verso o "Estilo Dilma Rousseff" de governar, tentando iniciar uma nova "lenda". E nosso Judiciário, que deveria ser a luz no fim do túnel, permanece estático, sem punir os culpados apesar da montanha de provas, afogando cada vez mais o pouco de esperança que nos resta.